segunda-feira, 28 de setembro de 2015

País | Cunha - O cerco se fecha e ele levanta mais poeira

Por Ivan Valente - Já são cinco os delatores da operação Lava Jato que confirmam que o presidente da Câmara Eduardo Cunha recebeu milhões de dólares de propina no escândalo da Petrobrás.

Primeiro, foi o doleiro Alberto Youssef que relatou a chantagem de Cunha sobre o empresário Julio Camargo através de requerimentos de convocação de dirigentes da Samsung e Mitsui, saídos do seu gabinete e apresentados pela ex-deputada Solange Almeida. Depois, foi o lobista Julio Camargo que, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, disse ter pago 5 milhões de dólares a Eduardo Cunha e mais 5 milhões a Fernando Baiano, o principal operador do PMDB e, segundo Camargo, sócio oculto de Cunha.

Agora, Fernando Soares, o Baiano, já fez delação premiada confirmando recebimento de 10 milhões de dólares por ele e por Cunha depois de reunião com Julio Camargo. Falta só o vídeo.

Em segundo, o ex-gerente Internacional da Petrobrás e delator da Lava Jato Eduardo Musa disse que o empresário João Augusto Henriques, também lobista do PMDB, lhe afirmou que Cunha "é que dava a palavra final" sobre indicações para a Diretoria Internacional.

O próprio João Henriques acaba de confirmar à força tarefa da Lava Jato que no âmbito de um contrato da estatal para aquisição de um campo de exploração em Benin, na África, fez "a pedido de terceiro" transferência bancária a um político com foro privilegiado. Investigadores da operação afirmam que se trata de Eduardo Cunha.

Isso tudo para não falar do policial Jaime Oliveira o "Careca", maleiro de Youssef que teria entregue dinheiro na casa de um advogado na Barra da Tijuca, Rio, para Eduardo Cunha. Investigação que está bloqueada.

Com tudo isso, Cunha continua presidindo a Câmara, operando no cargo ofensivamente para diluir as denúncias. Sabe da impopularidade de Dilma e do PT, mudo com a clamorosa corrupção em seus quadros e refém da governabilidade conservadora, maneja a espada do impeachment para acocorar o PT.

Cunha se aproveita do cinismo e oportunismo do PSDB que, interessado apenas no impeachment, protege Cunha na CPI da Petrobrás e se esgueira das denúncias de corrupção contra seus correligionários. Em relação ao PMDB que lhe dá cobertura, sabe que grande parte da cúpula da sigla está enroscada na Lava Jato como ele.

E no Congresso tenta manter grande apoio através da bancada BBB: do Boi, agracia com a votação da PEC 215 que acaba com a demarcação das terras indígenas, da Bíblia (fundamentalismo religioso) com a votação do Estatuto da Família e da Bala, com a votação do Estatuto do Desarmamento.

Apesar de Cunha levantar poeira o tempo todo para desviar-se da contundência das acusações que lhe atingem e do STF ter-lhe concedido espaçoso tempo para se defender, sua situação é insustentável. 
Uma decisão do Supremo de torná-lo réu, ou seja, acatando a denúncia da PGR, vai tornar inviável sua permanência no cargo. Mesmo com sua grande rede de proteção, inclusive em parcelas da mídia, grande parte da população já sabe que suas bravatas são uma grande cortina de fumaça para encobrir a verdade.

Ivan Valente – Deputado Federal PSOL/SP